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Do direito à respiração

   Os primeiros seres vivos não respiravam. Pelo menos não que nem a gente. Eles faziam o que alguns poucos seres ainda hoje fazem, a respiração anaeróbica. Depois, alguns outros habitantes da Terra primitiva começaram a inalar o oxigênio e a exalar gás carbônico — o que a gente chama de respiração.    Daí tem toda aquela história de evolução, saída do ambiente aquático e conquista do ambiente terrestre. E um fator essencial para que isso ocorresse foi a evolução do nosso sistema respiratório. Os mamíferos, com seu sistema pulmonar, já são plenamente adaptados para a plena respiração, sem maiores dificuldades. Ou seja, um ser humano, sem nenhuma deformidade física, deve ser capaz de inspirar gás oxigênio de maneira suficiente.    Uma pessoa ansiosa sabe que não é isso que acontece.    Eu não sei muito bem se eu tenho lugar de fala pra falar sobre, então não vou falar em nome dos ansiosos em geral, só vou falar da minha experiência pessoal.    Sabe quando você tá só de boas tentando pro
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Pulp Fiction

[Esse texto pode conter spoilers. Mas eu que não vou me desculpar por dar spoiler de um filme lançado há quase 30 anos.]    A humanidade raramente é unânime em relação a algum assunto. Sempre tem alguém - ou vários alguens - pra discordar da maioria. O formato do planeta, a eficiência da vacinação, a gravidade do coronavírus, nada disso gera concordância total entre os seres humanos. Mas, de longe, uma coisa que quase todo mundo concorda é que  cinéfilo é chato.    Por isso, sei que estou me arriscando ao escrever sobre um dos filmes mais falados de um dos diretores de cinema mais renomados. Porém, gostaria de deixar bem claro que não pretendo em nenhum momento fazer uma análise crítica coerente e bem estruturada de tal obra cinematográfica. A não ser que isso vá irritar algum cinéfilo. Aí nesse caso é exatamente isso que eu estou fazendo.    Muito se fala que Tarantino é superestimado. Sobre isso eu não posso falar. Mas Pulp Fiction é: bem bom. Talvez um pouco longo - eu assi

No futuro, todo mundo é meio bobo

   Como você imagina o ano de 2070? O paraíso da distribuição de renda? Ou o domínio total das grandes empresas capitalistas? Carros voadores, robôs, inteligência artificial? A ideia que temos de futuro não costuma se distanciar muito dessa visão dominada pela tecnologia. O que a gente se esquece é que nós já estamos em 2020. Nós somos o futuro imaginado por alguém há 20, 30, 40 anos. E a expectativa também era de carros voadores, robôs, inteligência artificial. Isso aconteceu?    A resposta é mais ou menos. Algumas expectativas foram correspondidas, outras não. Quando o filme “De volta para o futuro” fez 30 anos, foram inúmeros os posts que discorriam sobre quais previsões foram certas e quais não foram. Mas o que me interessa não é isso. Isso já tem demais na rede.     O que me interessa é como todo mundo no futuro parece meio bobo.    Os óculos de realidade virtual, antes artigos de ficção científica, depois artigos de luxo e agora acessíveis a qualquer criança com condições

A Metamorfose

Quando certa manhã Catarina Luz acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseada em uma adolescente universitária de quarentena. Não uma quarentena qualquer. Uma quarentena causada por uma pandemia mundial, um vírus chinês que se espalhou pelo mundo todo. Nem os Estados Unidos conseguem achar a cura - talvez a Guerra Fria não tivesse acabado (e talvez ela tenha um final diferente do que o esperado). Enfim, o principal não é o vírus. A grande questão é que há pouco mais de um mês, nossa jovem protagonista havia mudado de cidade. Saído de casa. Ido morar sozinha. Quer dizer, não exatamente sozinha. Em uma cidade com vários de seus amigos, em um prédio com vários de seus amigos. A vida até parecia mesmo uma festa. E em geral ela era.  Talvez essa seja uma visão tendenciosa, já marcada pelos olhos da saudade, da melancolia, do saudosismo. O melhor é sempre o que não temos. Ou pode ser que não. Pode ser que a vida fosse boa daquele jeito mesmo sim. Agora, de

Caim, de José Saramago

Uma história do Velho Testamento, sob os olhos de um personagem inusitado    A história de Caim é a seguinte: Caim e Abel são irmãos, o primeiro agricultor e o outro pecuarista. Ambos fazem oferendas para Deus, porém apenas as de Abel são aceitas. Caim, enciumado dessa preferência divina, assassina o irmão. Até aí tudo bem, essa história já é bem conhecida por todo mundo. Porém, quando Deus aparece para Caim, logo após o assassinato de Abel, o fatricida, sem papas na língua, aponta para o Senhor de que ele é cúmplice do crime, ou ainda o mentor intelectual, e que se quisesse poderia ter impedido o crime. Assim, eles entram em um acordo, e o castigo de Caim é andar pelo mundo sem rumo.    A partir daí, Caim começa a "viajar no tempo", ou, pelas palavras de Saramago, a andar por vários presentes. Ele então presencia vários acontecimentos do Velho Testamento, já bem conhecidos pelos cristãos. O primeiro deles é o quase assassinato de Isaac pelo seu pai, Abraão. Caim im