Os primeiros seres vivos não respiravam. Pelo menos não que nem a gente. Eles faziam o que alguns poucos seres ainda hoje fazem, a respiração anaeróbica. Depois, alguns outros habitantes da Terra primitiva começaram a inalar o oxigênio e a exalar gás carbônico — o que a gente chama de respiração.
Daí tem toda aquela história de evolução, saída do ambiente aquático e conquista do ambiente terrestre. E um fator essencial para que isso ocorresse foi a evolução do nosso sistema respiratório. Os mamíferos, com seu sistema pulmonar, já são plenamente adaptados para a plena respiração, sem maiores dificuldades. Ou seja, um ser humano, sem nenhuma deformidade física, deve ser capaz de inspirar gás oxigênio de maneira suficiente.
Uma pessoa ansiosa sabe que não é isso que acontece.
Eu não sei muito bem se eu tenho lugar de fala pra falar sobre, então não vou falar em nome dos ansiosos em geral, só vou falar da minha experiência pessoal.
Sabe quando você tá só de boas tentando proteger sua família e perpetuar a espécie e de repente aparece um tigre dente de sabre e ataca a caverna que você usa pra passar a noite? Eu nunca tive o prazer de passar por essa situação, mas imagino que a reação física pra isso seja: taquicardia e falta de ar — como se não tivesse ar suficiente no mundo para encher os seus pulmões.
E é exatamente assim que eu me sinto. Só que do nada. Sem motivo nenhum. Ou por um motivo completamente idiota, como ter que trocar o saco de lixo do banheiro.
Sinceramente, eu não vejo nenhuma explicação racional pra eu me sentir assim, e às vezes até preferia que fosse um problema totalmente físico, ao invés de psicológico. Me parece ser mais fácil de lidar.
E, junto com a taquicardia e com a falta de ar, vem uma agonia e um estresse que também não é tão agradável pra quem tem que conviver diariamente comigo — inclusive eu mesma.
Basicamente, é como quando você tem que fazer uma longa viagem de avião em plena crise de coronavírus, e a máscara não te deixa respirar e o medo de pegar a doença em qualquer lugar te deixa estressado — só que o tempo todo e sem motivo aparente.
Eu ainda não sei o que fazer com isso, como controlar ou canalizar pra outra coisa. Espero um dia descobrir.
Tem um cantor que eu gosto, chamado Jamie T, que sofria muito com ataques de pânico, mas conseguia melhorar quando estava fazendo música. Inclusive o nome do primeiro álbum dele é “Panic Prevention”.
Tem gente que consegue se acalmar desenhando, cantando, escrevendo, fazendo atividade física.
Eu, uma mulher sem aptidão artística nenhuma e sem disposição física, ainda não descobri o que me acalma.
E, sinceramente, não acho que deveria ser uma obrigação da pessoa ansiosa ter que extravasar isso de alguma forma.
Afinal, o direito à respiração é tão básico que nunca se passou pela cabeça de ninguém, nem nos cenários mais distópicos, que alguém pudesse ser privado desse ato tão indispensável para a sobrevivência de quase toda e qualquer espécie.
E, ainda assim, cada vez mais pessoas, no século XXI, sofrem com o desrespeito à esse direito, e o grande violador, em boa parte dos casos, tem nome: ansiedade.
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